Estes casos clínicos fictícios são em número suficiente para se conseguirem detetar neles algumas tendências, tipos de abordagem, coisas do género. Uma das tendências mais claras, na parte traduzida, é conterem uma ironia subtil mas omnipresente, capaz de os manter interessantes e divertidos mesmo quando podem correr algum risco de se tornarem algo maçudos. Outro é uma maior ou menor economia na palavra, a qual tem o mesmo efeito. Nem todos precisam: alguns partem de ideias tão boas que até se sustentariam sem isso. Mas essas ideias são uma minoria, e os que não dispõem delas precisam dessa espécie de "muletas" para se sustentarem bem.
A parte lusófona parece ser — pelo menos até aqui, e sou o primeiro a reconhecer que dois contos são insuficientes para generalizar seja o que for — significativamente menos dotada de ironia e/ou bastante menos cirúrgica no seu uso. À exceção da introdução do Seixas, que exibe o mesmo tipo de verve dos estrangeiros, o conto de Tinoco e este de Bruno Schlatter ficam bastante aquém nesse aspeto.
Mas se Tinoco foi sisudo, o problema de Schlatter é outro. Ele tenta introduzir ironia no seu conto, como de resto o título de Cancro de Meme (bibliografia) indica imediatamente. Mas é muito menos cirúrgico no seu uso do que os autores traduzidos, e portanto muito menos eficaz. O título é um bom exemplo do conteúdo: o trocadilho com cancro de mama é óbvio, tal como igualmente óbvias são a maioria das tentativas de ironizar que constam do texto propriamente dito. Este é, além disso, algo palavroso, o que também lhe reduz a eficácia. E mesmo a ideia da ideia enquanto agente infecioso ou cancerígeno limita-se a ser um aprofundamento sem grande rasgo do próprio conceito de meme.
O resultado é um texto relativamente fraco; um dos mais fracos de todo o livro até aqui.
Textos anteriores deste livro:
A parte lusófona parece ser — pelo menos até aqui, e sou o primeiro a reconhecer que dois contos são insuficientes para generalizar seja o que for — significativamente menos dotada de ironia e/ou bastante menos cirúrgica no seu uso. À exceção da introdução do Seixas, que exibe o mesmo tipo de verve dos estrangeiros, o conto de Tinoco e este de Bruno Schlatter ficam bastante aquém nesse aspeto.
Mas se Tinoco foi sisudo, o problema de Schlatter é outro. Ele tenta introduzir ironia no seu conto, como de resto o título de Cancro de Meme (bibliografia) indica imediatamente. Mas é muito menos cirúrgico no seu uso do que os autores traduzidos, e portanto muito menos eficaz. O título é um bom exemplo do conteúdo: o trocadilho com cancro de mama é óbvio, tal como igualmente óbvias são a maioria das tentativas de ironizar que constam do texto propriamente dito. Este é, além disso, algo palavroso, o que também lhe reduz a eficácia. E mesmo a ideia da ideia enquanto agente infecioso ou cancerígeno limita-se a ser um aprofundamento sem grande rasgo do próprio conceito de meme.
O resultado é um texto relativamente fraco; um dos mais fracos de todo o livro até aqui.
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