quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Escrita de julho


— E então, pá?
— Hm?...
— Então, acabaste a novela?
— Ah, isso. Ná.
— Então?
— Então o quê?
— O que aconteceu? Porque é que não a acabaste?
— Porque não deu para acabar.
— Ah. Estou a ver. Voltaste a interromper a escrita, não é? Andaste a escrever durante uns meses, mas cansaste-te e voltaste a fechar a loja. Certo?
— Heh. Estás mais frio que os glaciares em derretimento da Gronelândia. Escrevi quase todos os dias do mês.
— Ah sim? Então conta lá. O que é que se passou para não acabares a novela?
— Bem, olha, para começar, porque não é uma novela.
— Então é o quê?
— Um romance.
— Mas andaste meses a falar de novela...
— Pois andei. O plano original era fazer uma noveleta, mas depressa percebi que ia sair maior. Daí falar de novela. De resto, foi essa uma das razões por que desisti de tentar aprontá-la a tempo da Solarpunk. Não a única, mas uma das.
— E?...
— E está a sair ainda maior do que eu esperava.
— Mas então isso é assim? Aprendeste com o Martin, foi?
— Engraçadinho.
— Não estou a tentar fazer piada. Porque é que isso cresce tanto?
— Olha, porque à medida que vou escrevendo vai-me parecendo que a coisa fica pouco sólida e precisa de mais um detalhe, e depois de mais outro, e depois de outro ainda. E às vezes arranjo maneiras melhores de chegar onde quero chegar, que costumam levar-me a escrever mais. E por aí fora.
— Ou seja: aprendeste com o Martin.
— Se preferes encarar as coisas assim...
— E agora quando é que tens a coisa pronta?
— Já que dizes que aprendi com o Martin, toma lá: já não faço previsões dessas. E embrulha.
— Sacana dum raio.
— Não vale a pena ter a fama sem ter o proveito, não te parece?
— Bah!
— Hihihi.
— E agora vais-me dizer que não acabaste nada, querem ver? Nem mesmo o tal capítulo que dizias que era grande.
— Não digo, não. Esse capítulo está finalmente acabado. Já estou no penúltimo. E nos entretantos também escrevi um conto e revi outro.
— Então já está mesmo grande?
— Já. Este mês foram mais quase nove mil palavras. Umas 25 páginas. Nem todas para o romance, mas quase, que o conto é pequenino. Já vai com umas 130 páginas.
— E faltam quantas?
— Querias saber, não querias? Mas não vais saber.
— Humpf!
— É a vida...
— Mas o que é isso, afinal?
— Como assim?
— Estás a escrever o quê?
— Ah. É mais uma história do Tempo das Passarolas. A história que o público aqui da Lâmpada escolheu em 2017 para eu trabalhar a seguir. Não trabalhei em 2017, mas tenho trabalhado em 2019. Antes tarde que nunca, suponho.
— Bem, desde que a acabes... desde que não fique eternamente em promessa...
— Estou a tratar disso.
— Podia era ser mais depressa.
— Não sei se podia. Se calhar este é o meu limite. Eu só uma vez escrevi tanto num ano só como já escrevi este ano: quando escrevi o Por Vós lhe Mandarei Embaixadores. E se continuar a este ritmo, o ano acaba com mais de 200 páginas escritas. Nunca aconteceu.
— Tá bem pronto. Olha, vai escrever.
— Agora não, que estive aqui a escrever isto e já cansou. Mais tarde, talvez. Ou amanhã.
— Preguiçoso!
— Tem dias.

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