É curioso como por vezes basta uma frase para introduzir uma história num certo género ou retirá-la dele. E também é curioso como por vezes é absolutamente impossível falar de certas histórias sem entrar imediatamente em revelações de enredo, os tão temidos SPOILERS, e considerem-se avisados. É o que acontece neste conto de Saki, cujo remate, simultaneamente final surpresa, frase e parágrafo finais, faz com que um conto que até aí parecia ser realmente uma história de fantasmas passe a ser um conto humorístico com fantasmas à mistura, ou melhor, com a ideia de fantasmas à mistura.
A Porta Aberta é, neste caso, o lugar por onde se entra e sai de uma casa. Não é a porta da frente, mas a porta das traseiras, e as habitantes da casa, mãe e filha, aguardam que os homens da família regressem da caça enquanto conversam com uma visita. A filha, principalmente. Mas a história que esta conta é diferente; é uma história de fantasmas propriamente dita, e tenta com ela levar a visita a acreditar que os homens da família morreram todos tragicamente nos pântanos, um dia que foram à caça e não regressaram, coisa em que a mãe se recusa a acreditar. E fá-lo com tal perícia que quando os homens realmente aparecem, a visita julga-os fantasmas e foge esbaforida porta fora. Porta, esta, a da frente.
É um conto muito bem construído, este, e bastante divertido. No entanto, eu não lhe chamaria propriamente uma história de fantasmas. É mais uma história sobre fantasmas. Por outro lado, a sua inclusão neste livro amplifica a ilusão que lhe serve de esteio e portanto o efeito que o autor quis com ele alcançar.
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