Um dos temas recorrentes de Ray Bradbury, especialmente nos seus contos mais afastados da ficção científica, é o dos parques de diversões. Por vezes, são os próprios parques a servir de tema, mas é mais frequente que o tema seja a população frequentemente bizarra que neles trabalha e, até certo ponto, que os frequenta. O Anão (bibliografia) é uma dessas histórias.
O protagonista é, naturalmente, um anão. Um anão que frequenta habitualmente uma daquelas casas de espelhos que havia em algumas feiras, onde a troco de umas quantas moedas as pessoas podiam ver-se grotescamente distorcidas pelos espelhos côncavos ou convexos ou com outras formas ainda mais estranhas que lá existiam. Não faço a mais pequena ideia se tal diversão ainda existe nesta era de filtros fotográficos de todos os tipos em qualquer telemóvel, mas houve tempo em que essa era a única forma que as pessoas tinham para se verem como pessoas diferentes.
Claro, a subtileza deste conto reside na inversão. O anão sente-se ele próprio grotesco e visita o parque de diversões não para sublinhar esse grotesco mas para se poder ver distorcido como um homem tão alto como os outros. E isso desperta a piedade da personagem feminina da história, a qual se enche de boas intenções. Mas de boas intenções...
... está o companheiro dela farto. E cético. E isso leva ao desfecho da história, no qual surge um toque de horror psicológico num texto que até aí é basicamente realista, por mais incomuns que sejam o ambiente e as personagens. Este é um bom conto, mas não está ao nível das melhores histórias de Bradbury.
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