domingo, 18 de agosto de 2019

Italo Calvino: O Castelo dos Destinos Cruzados

Quem foi acompanhando os vários posts que fui fazendo à medida que ia lendo os contos de que se compõe esta coleção de contos interligados já tem uma ideia bastante concreta do que isto é mas, para os outros, aqui vai: O Castelo dos Destinos Cruzados foi um livro que Italo Calvino construiu com base nas cartas de tarot que lhe iam saindo, usando essas cartas como espinha dorsal (ou mero pretexto, por vezes) das histórias que foi tecendo. Divide-se em duas partes bastante independentes entre si, intituladas O Castelo dos Destinos Cruzados e A Taberna dos Destinos Cruzados, que reúnem histórias subtilmente diferentes: as da primeira parte são mais "bem comportadas", as da segunda mais caóticas.

Em ambos os casos, porém, o mecanismo narrativo é o mesmo: o narrador, após atravessar uma floresta, depara com um castelo ou taberna, e aí chegado descobre que perdera o uso da palavra, tendo o mesmo acontecido a todas as pessoas que lá encontra. Então, algum dos convivas tem a ideia de contar a sua história através das cartas de tarot, e os restantes (ou alguns dos restantes, pelo menos) imitam-no. As histórias são regra geral reconstituídas pelo narrador, com muitas dúvidas e hesitações devidas ao caráter ambíguo das cartas.

E são histórias com grande referencialidade a várias obras e autores da história da literatura, tanto a italiana como a europeia em geral. Em várias, as referências são óbvias, do Orlando Furioso às obras de Shakespeare, ao passo que outras remetem mais subtil e genericamente para a literatura popular ou para textos literários medievais ou anteriores. Em alguns, algo surpreendentemente, apesar de isso estar longe de ser inédito em Calvino, surgem quase pastiches de ficções percursoras da ficção científica, e em todos o fantástico está bem presente, até porque a própria premissa geral é inerentemente fantástica. E tudo escrito com grande qualidade.

Por outro lado, as limitações na forma de construir as histórias tornam-nas por vezes repetitivas e algo cansativas, e por vezes levam Calvino a fazer um pouco de batota para tentar escapar-se da camisa de forças em que se encerrou. A referencialidade também pode causar problemas à leitura por parte de leitores pouco familiarizados com os textos que inspiram Calvino, o que bem vistas as coisas constitui mais problema dos leitores do que dos textos.

No geral, este livro é bastante bom, conseguindo ser mesmo por vezes espantoso.

Eis o que achei de cada uma das histórias:
Este livro foi comprado.

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