quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Italo Calvino: Três Histórias de Loucura e Destruição

Dando continuidade à tendência para o caos que acompanha as histórias da segunda parte deste livro, Italo Calvino apresenta-nos agora três histórias, contadas por três protagonistas diferentes, os quais, para as contarem, competem pelas mesmas cartas de tarot. E são, naturalmente, Três Histórias de Loucura e Destruição.

Como em várias das histórias anteriores, também aqui Calvino vai buscar inspiração a literatura de tempos idos, e a capacidade de apreciar os detalhes desta história depende em parte do grau de familiaridade que o leitor tem com as obras que lhe serviram de inspiração. Confesso que por minha parte não tenho muita; é que embora conheça a maior parte das mais famosas obras de Shakespeare, nunca as li por inteiro, até porque nunca gostei de ler teatro, e tampouco as vi representadas na sua forma original, vindo-me o conhecimento pela leitura de alguns fragmentos e através de adaptações ao cinema e a óperas. Sim, aqui é Shakespeare quem inspira Calvino. Mais propriamente três das suas obras: Rei Lear, Macbeth e Hamlet.

O resultado é tão emaranhado como um novelo depois de ter passado pelas garras de um gato doméstico. A narrativa é hesitante, sinuosa, vagueando de um lado para o outro ao sabor da obra e respetivas personagens que ganham momentânea preponderância. É frequente voltar-se atrás com um "não, não é assim como foi dito agora mesmo, é assado". A principal mensagem que passa, pelo menos a quem não está muito familiarizado com Shakespeare (e desconfio que será a mesma para quem esteja), é comum a várias das outras histórias: os símbolos não são de fiar, estão demasiado sujeitos à subjetividade das interpretações para poderem ancorar-se firmemente seja ao que for.

Esta é das tais histórias cuja leitura não é particularmente agradável, apesar de ser bem visível e muito admirável a destreza com que o autor a tece, levando-a precisamente pelas veredas sinuosas por onde pretende levá-la. Por outras palavras: acho-a boa, mas não gostei muito de a ler.

Contos anteriores deste livro:

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