sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Italo Calvino: Eu Também Experimento Botar Palavra

À medida que nos aproximamos do fim deste livro de Italo Calvino, as histórias vão-se tornando cada vez mais bizarras. Eu Também Experimento Botar Palavra, a penúltima, até começa razoavelmente bem comportada, com o narrador a descrever de que forma tenta contar a sua história às restantes personagens presentes na taberna, mas depressa parte numa longa divagação sobre as representações possíveis do escritor não só em cartas de tarot mas nas artes plásticas em geral.

Entre as várias representações afloradas surge a figura do eremita, sozinho com os seus pensamentos e a sua pena, substituído por São Jerónimo quando as representações se transferem das cartas de tarot para os quadros, a do cavaleiro de espadas, cujo contraparte é São Jorge, o matador de dragões, e no meio de toda a especulação simbólica com base nas figuras pictóricas, Calvino, ou o seu protagonista por ele, vai inventando histórias, ou pelo menos farrapos de histórias.

Tão bem escrito como todos os outros, este conto tem um conteúdo simbólico mais denso que os demais, funcionando quase como texto filosófico sobre a natureza da atividade de escrita e as suas ramificações possíveis. Não é coisa que apele à minha personalidade de leitor, e fica ainda mais prejudicada por não conhecer particularmente bem as ramificações mitológicas das histórias que Calvino utiliza (coisas de ateu, desde sempre com pouco interesse pela religião e suas histórias), pelo que este não foi o texto que mais me agradou ler, longe disso. Mas julgo perceber o que Calvino aqui tentou fazer e até acho que o fez bem.

Contos anteriores deste livro:

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