sábado, 3 de agosto de 2019

K. H. Scheer: Missão Stardust

Depois de há uns tempos (bem, há bastante tempo já: quase dois anos) ter lido, fora de ordem, um dos livros da série Perry Rhodan, achei que já agora bem podia ler os que cá tenho por ordem. Começando pelo primeiro, como costuma acontecer quando se faz as coisas ordenadamente. Não é projeto de leitura de alta prioridade, como se pode deduzir pelos dois anos entre um livro e o seguinte, e pode ser abandonado a qualquer altura mas, para já, está lido este Missão Stardust, escrito por um senhor chamado K. H. Scheer.

E não começou particularmente bem, esta série Perry Rhodan. Mesmo dando o desconto devido ao facto de se tratar de uma série de inspiração declaradamente pulp, a verdade é que esta primeira novela deixa bastante a desejar, especialmente no início. Cheio de infodumps repletos de detalhes técnicos perfeitamente dispensáveis, o início deste livro é uma chatice pegada. E não precisam de acreditar em mim: o facto da edição vir com uma pequena nota a aconselhar os leitores a saltarem a primeira parte e começarem a leitura pela segunda é elucidativo quanto baste.

Trata-se da história da primeira missão tripulada à Lua, a Missão Stardust do título, que na época em que o livro foi publicado na Alemanha ainda estava no futuro, embora não por muito tempo. Não foi premeditado, mas foi muito curioso estar a ler este livrinho enquanto à minha volta o mundo celebrava o meio século da primeira missão verdadeira à Lua, recordando os detalhes da missão e os seus protagonistas. Foi quase como estar a ler com um calhamaço técnico ao lado e ir comparando realidade com ficção.

Mas claro: na realidade não houve nenhum encontro com alienígenas na face oculta da Lua.

Na ficção há, e é isso o que despoleta toda a gigantesca série do Perry Rhodan, a mais longeva e prolixa série de ficção científica literária do planeta. Isso e, julgo eu, o facto de Scheer ter decidido incluir logo neste primeiro volume algo mais profundo do que a mera aventura pulp que se poderia esperar: uma mensagem universalista, até mesmo pacifista, que só já não foi surpresa encontrar aqui porque a encontrei no primeiro livro desta série que li: o terceiro volume. Penso que sem isso, muito provavelmente, esta série nunca teria descolado por mais combustível que enfiassem no foguetão. Talvez convenha recordar que na época, um dos momentos mais tensos e extremados da Guerra Fria, a Alemanha estava no centro do confronto entre a NATO e o Pacto de Varsóvia, e dificilmente poderiam ter encontrado mensagem mais relevante do que essa para esse momento histórico.

É que a ficção científica nunca é realmente sobre o futuro, sabem? É, isso sim, uma forma de falar de forma abstrata sobre o presente e o passado.

Ainda por cima, é essa abordagem que justifica os atos de Perry Rhodan e do resto da sua tripulação no encerramento desta história, colocando-os em desafio aberto às potências terrestres e em aliança com os alienígenas. É um gancho claro para histórias subsequentes, extremamente eficaz, ao ponto de quase fazer esquecer o chatíssimo início desta. Quase.

O problema, claro, é o quase. E por isso não posso dizer que tenha gostado deste livro, mesmo com o desconto pulp ativo. A Abóbada Energética é bastante melhor.

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