sábado, 3 de agosto de 2019

Italo Calvino: História do Reino dos Vampiros

As histórias desta parte do livro em que as cartas do tarot são espalhadas e ordenadas sobre a mesa de uma taberna são mais variadas que as da primeira parte, como convém a um ambiente mais desordenado e informal que um castelo. Isso abre a Italo Calvino novas possibilidades narrativas, o que já ficou bem exemplificado com as histórias anteriores e volta a sê-lo nesta História do Reino dos Vampiros.

Esta é uma história de horror sobre versões da realidade, sobre as conclusões que se tiram com tanta frequência de informação incompleta ou até inexistente, mais uma vez com raízes profundas nos contos populares. Um rei é levado pelo bobo da corte a um cemitério oculto nas profundezas da floresta, e aí depara com um coveiro e com aquilo que julga ser bruxedos, levados a cabo por alguém que tem a forma e as feições da sua rainha. Indignado, investiga, contra todos os avisos de que se deve afastar, e quanto mais investiga mais profundamente mergulha em trevas sobrenaturais.

Furioso por ritos macabros como os que julga ver (embora aqui, bem como em vários outros pontos desta história, entre em jogo a ambiguidade das cartas, sempre abertas a interpretações divergentes) ainda terem lugar no seu reino, o rei vai tentar fazer o que pode para livrar os seus domínios de coisas daquelas, e aqui volta a surgir um ténue cheiro a ficção científica, pois o modo que o rei encontra para o fazer é meter a bruxa num foguetão e enviá-la para o espaço, talvez para a Lua, ou não andasse ela a dominar os atos profanos dos vampiros. Mas não corre bem: da floresta salta um violento relâmpago que atinge a cidade, avariando a central energética e o "grande cérebro mecânico" que tudo governa. E alguém lança o boato (e será mesmo inteiramente boato?) de que o relâmpago fora o rei a atirar a rainha da torre, matando-a, o que leva o povo à revolta. E o leva a ele a ficar com a fama de ser o rei dos vampiros.

Este é um conto algo confuso, o que me parece ser inteiramente propositado, uma forma de jogar com as ambiguidades do Tarot, e tão bem escrito como é de norma em Calvino. Bom, portanto.

Contos anteriores deste livro:

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