sábado, 20 de junho de 2020

Glen Cook: Mar Sereno

Escrever nem ciência é, muito menos é exata. Às vezes as coisas começam por correr mal e acabam por correr bem, outras vezes há altos e baixos vários ao longo da narrativa, outras vezes corre-se o risco de dar ao leitor a ideia que os textos são uma coisa quando na realidade são outra, de outras começam a correr bem e acabam a correr mal. Desconfio que neste Mar Sereno (bibliografia) Glen Cook padeceu de uma mistura destes dois últimos efeitos. É que a noveleta começa francamente interessante, mas esse interesse não dura até ao fim.

Estamos num planeta longínquo. Um mundo aquático, praticamente desprovido de terra emersa mas com alguns baixios. E vida indígena, incluindo pelo menos uma espécie que parece dotada de alguma inteligência. Aí, desenvolve-se uma civilização humana, composta pelos descendentes longínquos dos tripulantes de uma nave que, não se sabe bem porquê, se despenhou no planeta, os quais agora vagueiam pelo vasto oceano numa frota de navios. Veleiros. Mantêm-se no limiar da sobrevivência, basicamente pescando para terem o que comer. E repelindo ataques dos mais perigosos membros da fauna local.

Um ambiente francamente interessante, portanto. Mas a ele acrescenta-se um náufrago recente, um homem cuja nave se despenhara apenas alguns anos antes, e que vive com os humanos do planeta mas continua a ser estrangeiro, inábil nas técnicas que eles desenvolveram para sobreviver, tolerado apenas porque o clero local o considera importante e porque desenvolveu uma espécie de amizade com alguns dos tripulantes do navio em que viaja. E assim as coisas ficam ainda mais interessantes.

Mas depois, em vez de explorar bem este cenário, Cook usa-o apenas para uma aventurazinha de ação com reminiscências das 20.000 Léguas Submarinas de Jules Verne, nomeadamente do combate entre as forças do Capitão Nemo e os polvos gigantes, misturada com elementos de space opera. É que o homem era procurado por uma espécie qualquer de bandidos espaciais e estes tinham estado em contacto com a casta dos sacerdotes, os quais lhes revelam a existência dele. E tudo acaba sem glória nem grande interesse, numa FCzinha inconsequente que tinha potencial para ser muito melhor.

Detesto quando isto acontece.

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