quinta-feira, 4 de junho de 2020

Frederick John Kleffel: Infecção do Terceiro Olho

Se têm um espírito juvenil (ou, vá, um bocadinho infantiloide) são capazes de ver um título como Infecção do Terceiro Olho (bibliografia) e pensar imediatamente noutro "terceiro olho" que não aquele que aqui está em causa. Se as vossas tendências caírem mais para o lado do misticismo new age, no entanto, certamente vão perceber mais depressa a que "terceiro olho" Frederick John Kleffel quer chegar.

Há neste texto uma subtil troça da cultura hippie e de várias outras características humanas. Exemplifico: a doença começa a ser infecciosa quando um investigador de fungos, que estava a ficar careca, repara que o fungo desenvolve uns pelos quase indistinguíveis, em cor e textura, do seu próprio cabelo, e decide que não fazia mal nenhum adaptá-lo a capachinho vivo. Capachinho vivo que dá umas mocas valentes, pois o fungo segrega um alucinogénio potente. E o homem ainda arranja maneira de se deixar morder por uma carraça, a qual entra assim em contacto com o fungo, que desenvolve com ela uma relação simbiótica e passa a usar as carraças para se transmitir de umas pessoas para outras. Resultado: um surto epidémico. Com LSD (bem... com coisa parecida) à mistura.

É um conto divertido, este; nisso, o sucesso é total. E a ideia é boa. Explorada de outra forma podia dar uma história de ficção científica interessantíssima. Não sei se acontece o mesmo com todos os gajos que escrevem, mas enquanto lia este conto ia imaginando uma catadupa de variações e desenvolvimentos; acontece-me com certa frequência, mas muitas vezes o resultado é eu acabar a leitura com a sensação de que a ideia foi mal explorada. Não aconteceu aqui, talvez por me parecer que o autor conseguiu fazer precisamente o que pretendia fazer ou talvez porque a história mesmo assim me divertiu.

Textos anteriores deste livro:

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