domingo, 21 de junho de 2020

António Bettencourt Viana: Europa, um Mundo Fechado

É precisamente este o grande perigo de se escrever ficção científica (ou, na verdade, qualquer outro género literário) com a pedagogia no primeiro plano das preocupações: no afã de fornecer aos seus leitores informações sobre Europa, a lua de Júpiter, e algumas ideias especulativas que autores e cientistas têm tido sobre o que poderá encontrar-se no seu oceano subglacial, António Bettencourt Viana esqueceu-se do que de mais importante existe na FC: a história.

Não que não exista história, propriamente. Europa, um Mundo Fechado (bibliografia) conta como uma cápsula tripulada que atravessa o gelo para chegar ao oceano europano o descobre demasiado cedo e cheio de vida, mas essa história não passa de um esboço bastante tosco — especialmente quando comparado com várias outras ficções que contam a mesma história — a envolver aquilo que realmente interessa ao autor: explicar que condições existem no satélite joviano e o que se especula poder lá existir. Tudo o que é enredo é despachado em dois tempos, sem profundidade nem verdadeiro interesse, tão depressa o tripulante entra em perigo como dele sai sem um arranhão e sem que o leitor chegue a começar a preocupar-se com o seu destino e, transmitida a informação, o conto é rapidamente encerrado em clima de "e viveram felizes para sempre".

O resultado até pode ser um bom auxiliar pedagógico, mas é um conto de ficção científica bastante mau.

Contos anteriores deste livro:

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