quarta-feira, 3 de junho de 2020

Tito Couto (org.): Dez Contos Para Ler Sentado (#leiturtugas)

Curioso objeto literário, este Dez Contos Para Ler Sentado, mais um dos livros de que tomei conhecimento primeiro e depois resolvi arranjar como consequência da produção de conteúdos para a web. Resulta de um daqueles programas autárquicos destinados a promover determinados municípios, no caso o de Paredes, e que geralmente estão (ou estavam no tempo das vacas gordas) principescamente financiados. Aqui, tratava-se de promover Paredes como centro do design de mobiliário, e uma das ações do programa foi a organização e financiamento (considero este certo, mas aqui trata-se de uma opinião, não de certeza factual) de uma antologia de autores provenientes dos mais variados pontos do mundo lusófono, cujas ficções teriam de estar unidas por um tema comum: a cadeira.

Não sei, obviamente, como foi organizada a antologia, mas suspeito que Tito Couto terá convidado autores que lhe parecia poderem representar bem os respetivos países, produzindo ficções interessantes. Não está representada toda a lusofonia, mas quase: há dois autores portugueses (um dos quais nascido na então Rodésia, hoje Zimbabwe), três brasileiros, e Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau têm um representante cada. Isto, só por si, confere algum interesse ao projeto: não é frequente encontrá-los assim tão abrangentes, pois o mais comum é que projetos internacionais deste género se resumam ao eixo Portugal-Brasil, por vezes com um ou outro africano pelo meio.

Claro que, com tanta diversidade, o risco do livro acabar por ficar algo desequilibrado existia, mesmo unido por um tema comum. E de facto ficou, até porque vários dos autores resolveram em maior ou menor grau ignorar o tema, usar a cadeira como mero adereço bem distante do núcleo da narrativa. São opções inteiramente legítimas mas que retiram um pouco do interesse que a antologia poderia ter. E o facto de o organizador ter optado por apresentar os contos por ordem alfabética dos respetivos autores também criou um efeito secundário um pouco desagradável: os contos menos interessantes são precisamente aqueles que abrem e sobretudo que fecham o livro, deixando ao terminar a leitura um sabor algo mais amargo do que tipicamente acontece quando as antologias são encerradas em grande.

Mas há aqui contos bastante bons, pelo que, como eu costumo dizer, valeu a pena tanto a iniciativa como a leitura. Destaco em especial os contos do Onjaki, do Luís Cardoso e do Arthur Dapieve, embora haja mais dois ou três que não lhes ficam a dever muito.

E além disso, esta é uma antologia cheia de fantástico. Em dez contos, são cinco os que incluem elementos fantásticos, com graus variados de intensidade e de sucesso. Quase sempre na vertente realista-mágica, claro, mas ele está lá e por vezes há toques de outras coisas. Terror, por exemplo. Curioso é também ambos os autores portugueses enveredarem por aí... enquanto Mia Couto que, como é sabido, tem um imaginário muito fantástico, aqui se remete ao realismo mais estrito.

Por tudo isto, não tendo eu achado esta leitura nada de extraordinário, não deixei de gostar dela.

Eis o que achei dos contos um a um:
Este livro foi comprado.

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