Há neste livro histórias que são mesmo histórias, com praticamente tudo o que compõe uma história, ainda que em forma abreviada, há também textos pseudofactuais que encaram mais a sério essa qualidade, revestindo-se da aparência de um texto médico propriamente dito, de uma forma mais proximamente decalcada das imposturas borgesianas, e há ainda vários textos intermédios, que como que contam a história, ou por vezes várias histórias, em entrelinhas bastante visíveis. É o que Liz Williams faz com este Sarcoma Auto-Esfolante Espontâneo de Hsing (bibliografia).
Mais uma vez estamos perante uma doença que leva ao esfolamento, só que desta vez é um esfolamento artístico, chamemos-lhe assim, pois a pele dos pacientes como que se abre "como as pétalas de uma flor". Sem pele, a morte é inevitável, o que criaria um cenário de um certo horror se a autora não o tivesse salpicado de sensualidade. Mas a parte mais interessante deste conto nem é essa; é a forma como Williams sugere subtilmente uma variante da doença (ou sintomas desta que não são reconhecidos por quem a descreve) e a sua ligação a pragas de gafanhotos e com isso consegue contar uma história mais escrita em entrelinhas do que no texto propriamente dito.
O resultado é francamente bom.
Textos anteriores deste livro:
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