sábado, 23 de janeiro de 2021

João Guimarães Rosa: Um Moço Muito Branco

Com umas sugestões de objetos voadores não identificados ou de outros objetos tecnológicos, que ultrapassem a mera menção a uma "geringonça", este conto de João Guimarães Rosa seria de ficção científica. Julgo, no entanto, que não terá sido essa a intenção do autor e a inspiração foi outra: a mitologia cristã.

É que, de facto, Um Moço Muito Branco (bibliografia) é sobre... um moço muito branco que aparece de repente numa cidadezinha brasileira no meio de muito fogo e destruição. Um moço muito branco e um moço muito estranho também, uma vez que parece ter poderes e não se rege pelas convenções sociais dos seres humanos. Um extraterrestre, portanto? Quase, quase. De facto não se distingue muito de vários ETs da ficção literária e cinematográfica. Mas talvez seja mais um anjo.

O que faz mover o conto é sobretudo a tensão entre o estranho protagonista e as normas sociais e morais da terreola conservadora onde ele vai parar. A prosa, essa, é um pouco estranha, pois apesar da sua grande qualidade parece algo anacrónica tanto em relação ao tema e enredo do conto, quanto, ou sobretudo, em relação à época em que este foi escrito. Nunca tinha lido Guimarães Rosa, pelo que não sei se se trata de estilo do autor ou artifício escolhido para esta história concreta, talvez para sublinhar a sua estranheza. E de facto é isso o que mais fica desta leitura: um conto bom, mas estranho, com uma história que não será nenhum prodígio de originalidade mas não deixa de ser interessante.

Textos anteriores deste livro:

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