sábado, 2 de janeiro de 2021

Irmãos Grimm: O Cravo

Uma das maneiras possíveis de dividir as histórias tradicionais europeias separa aquelas que mantêm mais ou menos puro o seu paganismo original daquelas em que o cristianismo surge explícito, quer por via de alterações feitas a histórias mais antigas, quer por se tratar de histórias criadas já depois das religiões cristãs terem dominado o continente. A quase totalidade das histórias dos Irmãos Grimm que surgiram até agora nestes volumes pertence ao primeiro grupo. O Cravo não.

O Cravo é uma história tão imbuída de cristandade que tem "Deus Nosso Senhor" na primeira linha e "Deus" na última. No entanto, essa cristandade parece ter sido sobreposta a um substrato mais antigo, pois os elementos nucleares da história são comuns a vários outros contos que a não têm. Fala de uma rainha estéril que magicamente teve um filho (aqui, claro, por intervenção divina), e desse filho, que tinha poderes (bastava-lhe desejar e os desejos eram satisfeitos) e acabou raptado por conta desses poderes.

No fim, depois de muita crueldade, de uma vingança bárbara e de muita magia, tudo acaba por ficar bem, como é típico dos contos de fadas. Embora este não tenha fadas, substituídas nos seus papéis habituais por deus e por anjos. Pelo meio fica um conto que, apesar de típico e talvez algo adulterado pela religião dominante, não deixa de ter o seu interesse.

Contos anteriores deste livro:

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