Há pessoas que leem um livro de cada vez. Outras leem dois ou três. Eu tendo a ler muitos, a maioria de contos, em parte porque não deixam de ser engraçadas as sincronicidades que às vezes acontecem quando me aparecem em livros diferentes contos com pontos de contacto evidentes. Agora, calhou estar a ler ao mesmo tempo esta antologia brasileira e os contos de FC surrealista do Mário-Henrique Leiria. E há paralelos claros entre o nosso Mário-Henrique e esta história de Murilo Rubião.
Não que Teleco, o Coelhinho (bibliografia) tenha alguma coisa a ver com ficção científica. Mas a forma de usar o surrealismo para criar situações insólitas profundamente ancoradas no quotidiano é basicamente a mesma em Rubião (ou pelo menos neste Rubião) e em Leiria.
Esta é a história de Teleco, o coelhinho. De Teleco e do homem que o acolhe em casa, sem propriamente um motivo claro. Por impulso. Sabendo que Teleco pode ser um coelhinho mas não é propriamente um coelhinho, pois não só fala como é capaz de se metamorfosear no que lhe apeteça. E isso gera um sem-número de problemas que vão servir de motor à narrativa.
Este é um conto divertido e bem feito, que a meu ver peca um pouco por se limitar a ser divertido e bem feito. Ou seja, a criação que Rubião aqui cria dava pano para mangas mais vastas, que ele parece não ter querido explorar, preferindo enfiá-la na via relativamente estreita da convivência interpessoal, com os seus amores e ciúmes velhos como o mundo. Parece-me que a ideia do coelho falante metamorfo dava para muito mais do que isso. Mas a verdade é que o que Rubião fez ficou bem feito, pelo que não me posso realmente queixar.
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