sábado, 16 de janeiro de 2021

Afonso Arinos: Uma Noite Sinistra

Um título como Uma Noite Sinistra (bibliografia) não engana ninguém. Nem tenta. Na verdade, bem pelo contrário, situa propositada e imediatamente o leitor no que poderá esperar do conto. É um conto de fantasmas, daqueles noturnos, misteriosos, assustadores. Uma história de casa assombrada ambientada no sertão brasileiro, ou não tivesse sido retirado de um livro chamado Pelo Sertão. O livro que deu fama a Afonso Arinos, de resto.

É um conto bem feito, que para um leitor português traz uma dificuldade acrescida devido ao uso de numerosos regionalismos que, regra geral, são desconhecidos do lado de cá do Atlântico. Muitos compreendem-se pelo contexto, é certo, mas nem todos. Mas tirando isso, que sendo embora uma dificuldade também ajuda bastante a situar a ação, a prosa não é particularmente complexa e o conto segue com bastante fidelidade os padrões deste tipo de história.

Aliás, talvez os siga com demasiada fidelidade. Digo isto porque estas opiniões sobre as histórias deste livro andam bastante atrasadas e o tempo decorrido desde a leitura já me tinha levado a esquecer quase por completo este texto, o que não acontece com os que o rodeiam. Sim, o conto é bom, mas lê-se um pouco como coisa já lida. Ou pelo menos como coisa lida antes de ser transplantada para o Sertão brasileiro. Na introdução fala-se das histórias de assombrações que o povo conta e sim, este conto de Arinos tem essa atmosfera. Só que o outro lado dessa moeda é ele não trazer realmente muito de novo. Há histórias mais ou menos como esta em quase todas as literaturas europeias, e provavelmente também na maioria das americanas. Arinos até fala aqui de lobos, animal ausente da fauna do seu país (há na América do Sul um canídeo chamado lobo-guará, mas tem um estilo de vida bem diferente do dos verdadeiros lobos, assemelhando-se mais ao de uma raposa), no que parece ser uma tentativa de capturar um imaginário muito característico das histórias europeias e norte-americanas.

Por outro lado, nada disto anula o facto de que sim, o conto está bem feito. É um bom conto. Esquecível, talvez, mas bom.

Textos anteriores deste livro:

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