Há escritores a escrever hoje que parecem esforçar-se para produzir textos que possam confundir-se com ficções oitocentistas, de tal forma arcaicos são os temas que escolhem e os estilos que adotam. Por outro lado, há textos oitocentistas como este, de uma modernidade surpreendente, abordando temas que não se esperaria ver abordados em textos produzidos numa época que, pelo menos em certas áreas do mundo, estava dominada pelo puritanismo vitoriano.
Felizmente Machado de Assis era brasileiro, e por isso estava bem longe da influência da rainha Vitória. Talvez seja pelo menos em parte essa a explicação para ter escrito este As Academias de Sião (bibliografia) em 1884. É que para lá do seu evidente caráter alegórico, este conto debruça-se sobre a transsexualidade e os papéis de género.
Não deixa de ser curioso que Assis tenha situado a sua história no Sião, atual Tailândia, país mundialmente famoso pelo turismo sexual no qual está envolvida uma grande quantidade de transsexuais e travestis. Já seria assim no seu tempo? Não faço ideia. O certo é que este conto relata a história de um rei "de alma feminina" e de uma das suas concubinas, "de alma masculina". Embora não vá até às últimas consequências da ideia, os dois amantes trocam magicamente de corpos e aí se cumprem, sendo com relutância que regressam ao corpo original.
Simultaneamente, Assis diverte-se à custa dos académicos, retratando as academias de Sião como coisas grotescas, cheias de gente plenamente convicta de que todos os outros académicos ora são burros ora camelos. Diverte-se e diverte-nos, pois as ironias que aplica têm genuína graça.
Este conto seria bom mesmo se tivesse sido escrito hoje. Sendo um conto com quase cento e cinquenta anos, é extraordinário. Bravo, Machado!
Felizmente Machado de Assis era brasileiro, e por isso estava bem longe da influência da rainha Vitória. Talvez seja pelo menos em parte essa a explicação para ter escrito este As Academias de Sião (bibliografia) em 1884. É que para lá do seu evidente caráter alegórico, este conto debruça-se sobre a transsexualidade e os papéis de género.
Não deixa de ser curioso que Assis tenha situado a sua história no Sião, atual Tailândia, país mundialmente famoso pelo turismo sexual no qual está envolvida uma grande quantidade de transsexuais e travestis. Já seria assim no seu tempo? Não faço ideia. O certo é que este conto relata a história de um rei "de alma feminina" e de uma das suas concubinas, "de alma masculina". Embora não vá até às últimas consequências da ideia, os dois amantes trocam magicamente de corpos e aí se cumprem, sendo com relutância que regressam ao corpo original.
Simultaneamente, Assis diverte-se à custa dos académicos, retratando as academias de Sião como coisas grotescas, cheias de gente plenamente convicta de que todos os outros académicos ora são burros ora camelos. Diverte-se e diverte-nos, pois as ironias que aplica têm genuína graça.
Este conto seria bom mesmo se tivesse sido escrito hoje. Sendo um conto com quase cento e cinquenta anos, é extraordinário. Bravo, Machado!
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