Não sei se quando Frederik Pohl arregaçou as mangas para escrever Esperando os Olimpianos (bibliografia) pretendia dar uma lição sobre a natureza (e o interesse) da história alternativa e da ficção científica ou se se limitou a deixar-se entusiasmar pela ideia, mas o que é certo é que esta noveleta é uma aula sobre o que é, sobretudo, e em parte também para que serve tanto a história alternativa em particular como a ficção científica em geral. E também é uma daquelas histórias de escritores, que tantos escritores tanto gostam de escrever e tanto agrada a outra gente ligada à literatura: uma história sobre o mundo dos escritores e dos editores. Tudo numa história de história alternativa. E de ficção científica.
E é uma história de HA e de FC bastante bem feita. Abre com os problemas de um escritor mediano de ficção científica em Londres (o género não tem esse nome, mas percebe-se o que é), cheio de esperança em ver o seu último romance aceite pelo editor e lançado de repente aos leões quando o descobre recusado. Aqui há na história elementos um pouco estranhos e notas de futurismo que levam o leitor a achar estar perante uma história típica de FC de futuro relativamente próximo, na qual as coisas se passam basicamente como se passam no presente (no presente do autor quando a escreveu, em finais dos anos 80, mas em grande medida também no presente dos nossos dias).
Mas depois, de repente, o leitor percebe que não, o que está a ler não é uma história de FC de futuro relativamente próximo. É uma história de história alternativa, passada num presente alternativo em que o Império Romano perdurou até aos dias de hoje. Sem as invasões bárbaras, sem Idade Média, neste mundo alternativo a tecnologia avançou mais rapidamente do que na nossa linha de tempo, e já existem colónias espaciais, inclusivamente à volta das estrelas mais próximas.
Mas o que faz mover a história, além dos problemas do protagonista escritor que procura desesperadamente arranjar algo sobre que escrever a tempo de não ficar sem cheta e cheio de dívidas (e atenção, que no Império Romano havia escravatura, a qual perdura tanto quanto o próprio império... e uma das formas de alguém acabar em escravo é tendo dívidas impossíveis de pagar), é o primeiro contacto. Não com uma espécie alienígena, mas com todo um conjunto delas, uma espécie de federação galática... um panteão completo: os olimpianos. Estes vêm a caminho, depois de encetarem contactos por mensagens de rádio. E ninguém quer fazer nada que possa ofendê-los. Mais um problema para um autor cujo último livro, esse mesmo que foi recusado, é uma sátira na qual emburrece os alienígenas.
Ora acontece que o bom do escritor decide viajar para a província romana do Egito em busca de inspiração e, por casualidade, encontra um velho amigo, também escritor mas, ao contrário dele, cientista de renome, e consulta-o na esperança do amigo lhe fornecer alguma ideia útil. É este quem lhe sugere escrever uma história alternativa, conceito que não entra na cabeça do protagonista. Imaginar que as coisas se passaram de outra forma?! Mas se não se passaram assim!... Vai ser esta incompreensão que Pohl utiliza para explicar o conceito e os seus méritos e gasta nisso uma boa porção do texto, à mistura com uma relação romântica do protagonista com a filha do amigo escritor e cientista, que calha ser historiadora.
Tudo isto muito bem feito (à parte, talvez, a paixão instantânea, mas enfim...), com cada peçazinha no sítio que lhe é próprio. E tendo em conta que o final, que não revelarei, é ao mesmo tempo surpreendente e inteiramente previsível, estamos perante uma novela de primeira água.
Foi uma das primeiras histórias que traduzi para a finada versão brasileira da Isaac Asimov Magazine, e me deu muito prazer em traduzir. Tive a oportunidade, pouco depois, de conversar com o próprio Pohl, em sua visita ao Brasil - mas ele me disse, com bastante humildade até, que infelizmente não se lembrava de quase nada a respeito da novela, apenas que tinha tido muito prazer em escrevê-la.
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