Nesta História de Astolfo na Lua, Italo Calvino foge um pouco à técnica que tem utilizado para construir estas histórias, afastando-se até certo ponto da narrativa dedutiva em que cada carta posta na mesa é motivo de especulação e análise para o narrador ir reconstruindo a história que quem descarta quer contar, entre muitas hesitações e incertezas. Aqui, estas reduzem-se bastante e as dúvidas sobre o significado de cada carta transformam-se sobretudo em dúvidas sobre que varta virá a seguir. É tão legítimo contar a história assim como da forma anterior, obviamente, mas não consegui evitar uma certa sensação de batota.
Quanto ao conto em si, é uma visita de Calvino à proto ficção científica medieval e renascentista, coisa que ele também faz com frequência nas Cosmicómicas ainda que sob uma abordagem bastante diferente. O conto tem ligação direta com o conto anterior, uma vez que também Astolfo é personagem dos poemas épicos de Boiardo (e não só, pois ambos têm base em lendas mais antigas), e é para tentar recuperar o juízo de um Orlando enlouquecido que Astolfo parte para a Lua montado num cavalo alado. Mas só encontra um deserto.
À parte a sensação de batota referida acima, este conto é muito bom, literariamente falando. A narrativa, privada das dúvidas e hesitações do decifrar da história através das cartas de tarot (ou pelo menos com elas atenuadas), fica mais fluida e o conto ganha mais ritmo, mantendo-se tão bem escrito como os restantes.
Contos anteriores deste livro:
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