Mais um conto publicado pelo DN e mais um autor que eu nunca tinha lido, o qual escreve sobre uma atividade (profissão?) de que eu nunca tinha ouvido falar. O que é, em si mesmo, interessante. Tal como interessante é verificar que tal se sai na prosa alguém cujo renome nas letras nacionais foi construído enquanto produtor de poesia.
São vários, portanto, os motivos de interesse apriorísticos que eu pude encontrar neste Defensor do Vínculo, de Pedro Mexia, um conto sobre um homem que tem a atividade que o título designa e consiste na tentativa de defender o vínculo do casamento católico contra as tentativas de dissolução de casais desavindos. Porque a igreja católica continua a não reconhecer o divórcio, pois entende que o casamento é sagrado, e não é porque um casal se divorcia civilmente que pode considerar o casamento desfeito caso se tenha casado (também) por via religiosa. Terá que procurar obter a dissolução do casamento, o que tem regras próprias e, segundo julgo ter percebido, envolve uma espécie de julgamento para avaliar se as regras são cumpridas. O defensor do vínculo será, assim, uma espécie de advogado de defesa dos sacramentos.
Para apimentar a coisa, este defensor do vínculo está com dúvidas, ou se calhar simplesmente deprimido, e o ex-casal exibe uma atitude que força a verosimilhança. Mexia vai fazendo avançar o enredo (enfim, o que aqui existe de semelhante a um enredo) de forma sonolenta e sinuosa, com frases intermináveis carregadas, como talvez fosse inevitável, de jargão jurídico e salpicadas de tiradas vagamente filosóficas. O resultado talvez seja fascinante para a malta do direito e/ou da teologia, mas está longe de o ser para mim. Não são temas que me interessem, e a abordagem de Mexia deu-me fundamentalmente sono. O conto não é mau, Mexia escreve bem, ainda que não me agrade por aí além a verbosidade sinuosa dos seus parágrafos (apesar de tudo não é nenhum Saramago, o Mexia), mas para mim funcionou como um belo soporífero. Muito me surpreenderia se ainda me lembrasse de alguma coisa sobre ele daqui a um ano.
Um conto talvez para ter em cima da mesa de cabeceira? :D
ResponderEliminarTalvez, talvez... mas só deve dar para uma utilização. ;)
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