domingo, 2 de junho de 2019

Lido: Contos (#leiturtugas)

Para quem gosta de literatura fantástica e conhece Eça de Queirós como um (grande) romancista realista, a primeira coisa que salta à vista quando se lê estes Contos (bibliografia) é a quantidade relativamente grande de contos fantásticos que a coletânea contém. Não são a maioria, longe disso, mas encontrar-se 4 contos fantásticos numa coletânea de Eça será algo inesperado para quem leva uma vida a ouvir dizer que isso de ficção científica e fantasia é literatura menor que nenhum escritor sério perderia tempo a cultivar.

(E sim, há quem continue a dizê-lo, mesmo depois do nosso único Nobel da literatura ter sido essencialmente um escritor de literatura fantástica que até com a ficção científica namorou, o que eu acho, francamente, espantoso. Não que ele o seja, atenção; que quem continue a dizê-lo o faça.)

Pois bem, Eça cultivou. À sua maneira, naturalmente, indo buscar inspiração aos mitos bíblicos, aos mitos helénicos, a velhas lendas e histórias populares. Isto é, o fantástico de Eça, ao contrário do que acontece com muitos fantasistas modernos cuja inspiração é mais nórdica e anglo-saxónica que latina, está muito enraizado na cultura portuguesa e nos elementos que confluíram para a sua criação. É tão profundamente português como tudo o resto em Eça, apesar do eterno aborrecimento do autor com a pequenez pátria, o qual, diga-se de passagem, também é extremamente português.

E são em geral bons contos, ainda por cima. Os fantásticos e também os outros. Seria de esperar? Sim, até certo ponto, porque se é certo que Eça é um dos nossos grandes romancistas — há quem diga que o maior de todos e eu percebo porquê — não é menos certo que um grande romancista nem sempre corresponde a um grande contista. E vice-versa.

E creio que isso acontece com Eça. Embora os contos sejam em geral bons, raros foram os que realmente me impressionaram. Em parte, creio, porque vários destes contos são mais estudos de personagem do que propriamente narrativas destinadas a contar uma história, ao passo que nos romances Eça faz ambas as coisas com mestria. Em parte, talvez, porque há em vários uma certa dissonância entre a qualidade literária, no que toca ao puro tratamento da linguagem, e aquilo que mais apela ao meu gosto enquanto leitor. E em parte porque um ou dois destes textos me parecem corresponder a experiências não inteiramente bem sucedidas.

Por outro lado, esta opinião menos bem impressionada também talvez tenha algo a ver com quem Eça é. Não há volta a dar-lhe: quando pegamos nos textos dos gigantes, estamos sempre à espera do sublime, e se não o encontramos, porque a verdade é que as pessoas são simplesmente humanas e nem tudo o que fazem está ao nível da sua melhor produção, mesmo quando é na mesma francamente bom, a avaliação final acaba por sofrer com o excesso de expetativa. E estes contos são em geral bons. Não são, certamente, tão bons como os melhores romances de Eça, mas são bons.

Eis o que achei de cada conto:
Este livro é proveniente da biblioteca dos meus pais.

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