E cá estamos nós às voltas com a noção do infinito e os paradoxos fantásticos que Jorge Luis Borges tão genialmente foi tecendo à volta dela e ao longo de toda a sua obra.
E "genialmente" não é uma palavra posta aqui por acaso: este O Livro de Areia é um conto rigorosamente genial. Em cuja meia dúzia de páginas Borges cria o objeto infinito da vez e explora as consequências da sua posse para o seu protagonista/narrador. O objeto infinito da vez é, claro, o livro de areia, que não é propriamente de areia pois a areia aqui é uma analogia. O livro parece um livro comum, mas contém todas as páginas possíveis de todos os livros possíveis, uma quantidade tão inumerável como os grãos de areia que existem no universo. O problema? Nunca se sabe que páginas estão de momento acessíveis antes de o abrir e, uma fez fechado, é impossível voltar a encontrar o ponto em que se fechou.
Tudo isto confere ao livro uma raridade absoluta, e por conseguinte um valor também absoluto. E o protagonista desta história age em conformidade, adquirindo-o. Mas há uma espécie de maldição na posse de coisas valiosas, e essa maldição tem consequências. Borges não foge delas, bem pelo contrário, e o final da sua história é tão inevitável quanto inesperado. Tudo magnífico. Este é um grande conto.
Contos anteriores deste livro:
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