sábado, 1 de junho de 2019

Lido: 26 Macacos e Também o Abismo

Ora aqui está uma história francamente bem contada.

É nisso que este 26 Macacos e Também o Abismo (bibliografia) realmente se destaca: a forma hábil com que a americana Kij Johnson, que nunca antes me tinha passado pelas mãos, vai desenrolando o novelo deste conto, ora lançando aqui uma afirmação insólita que espevita a curiosidade sobre o que poderá estar ela a contar, ora deixando cair acolá uma explanação que responde a duas ou três dúvidas ao mesmo tempo que cria mais duas ou três e deslocando-se sinuosamente para trás e para a frente no tempo, muitas vezes atrás dos seus macacos.

Sim, os macacos são vinte e seis, e de uma variedade de espécies, aos quais há que se somar a tratadora / ilusionista que com eles apresenta um número de desaparecimento em banheira, numa daquelas feiras que percorrem os Estados Unidos. Se bem que a tratadora de pouco trate e as ilusões que a ilusionista vende sejam mais a ilusão da inexistência de magia do que a da sua existência. É que, para sua grande confusão, e por mais que lhe espevite futilmente a curiosidade, os macacos desaparecem mesmo da banheira onde se recolhem, voltando a aparecer horas mais tarde, no autocarro que os transporta de uma cidade à seguinte, sem que ninguém saiba por onde andaram. Só eles, talvez.

É a história do mistério e o lento e sinuoso desvendar do que desse mistério a mulher foi sabendo que funciona como motor do conto. E também a história de como ela deu por si responsável por aquele número, herdando-o de uma forma compulsória do seu antigo dono, o qual lho vende por um dólar, e de como acaba por se livrar dele, anos mais tarde, de uma forma muito semelhante. Uma história contada com grande competência, como ficou expresso acima. Gostei bastante deste conto. Talvez não tenha gostado muito, mas sim, gostei bastante. É bastante bom.

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