domingo, 23 de junho de 2019

Irmãos Grimm: Contos da Infância e do Lar, Volume I

Sessenta e três. São sessenta e três os contos que os Irmãos Grimm recolheram e trabalharam e anotaram e a editora resolveu incluir neste primeiro volume de três dos Contos da Infância e do Lar. São muitos contos, com muitos elementos repetidos devido à incessante fertilização cruzada típica da literatura de raiz oral, pois como se sabe quem conta um conto acrescenta um ponto. Ou retira. Ou vai buscá-lo a outros contos que já conhece porque sempre é mais simples do que inventar de raiz e é mais fácil de decorar.

É esta repetição que constitui o principal ponto fraco de uma compilação como esta quando é lida como outro livro qualquer. Porque compilações destas não devem ser lidas como outro livro qualquer. Não devem ser lidas do princípio até ao fim, sistematicamente, um conto após outro e após outro e após outro. Não. Lidas assim acabam por se tornar cansativas (a menos que sejam curtas, coisa que esta decididamente não é) e a experiência de leitura ressente-se.

Um livro como este é feito para ser estudado por gente interessada em mergulhar a fundo nas histórias tradicionais, sejam académicos ou não, ou então para estar na estante à espera que alguém pegue nele, leia uma ou duas histórias, provavelmente escolhidas ao calhas, possivelmente em voz alta, para serem escutadas por miúdos ou graúdos, e o devolva ao lugar até à próxima vez que lhe chega o apetite de ler mais duas ou três histórias.

Mas claro que eu o li de fio a pavio, começando pelo princípio e terminando no fim.

E o resultado disso é que vou ter de descansar pelo menos alguns meses destas histórias antes de pegar no segundo volume. Independentemente da qualidade desta edição, que é muito elevada, tradução incluída, o que obviamente abre excelentes perspetivas para os outros dois volumes. É necessário porque já imagino o que aí vem: mais histórias repletas de elementos repetidos, mais trios, mais reis, príncipes e princesas.

E também mais crueldade, porque se há coisa que impressiona ao ler os originais dos Irmãos Grimm e compará-los com muitas das adaptações mais ou menos delicodoces feitas mais tarde é a enorme crueldade que se encontra nos originais. Fruto de um tempo diferente, provavelmente. Fruto também da cultura tradicional germânica, quem sabe? O certo é que quando comparamos estas histórias com os contos populares portugueses do Adolfo Coelho não encontramos nestes uma crueldade tão intensa, embora ela também lá esteja. Os portugueses são mais brandos que os alemães, e também mais iconoclastas, ainda que tudo isso também possa ser mais efeito dos compiladores e muitas vezes retocadores das histórias do que propriamente do material de base. Mas especulo. Para o poder afirmar com segurança seria necessário fazer um estudo aprofundado que misturasse literatura, etnologia e sociologia e fosse buscar mais fontes que estas duas, e isso é areia muito excessiva para a minha pequena camioneta. Foi essa a impressão com que fiquei (e foi essa uma das fontes de interesse que encontrei nas histórias dos dois livros), agora se é verdadeira ou não, não faço a mínima ideia. O que sei é que, cansativo ou não, este o livro é bastante bom e inclui várias histórias que se tornaram clássicos absolutos. Isso basta.

Eis o que achei de cada um dos contos deste livro:
Este livro foi comprado.

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