segunda-feira, 10 de junho de 2019

Irmãos Grimm: O Campónio

E mais uma vez, idiotas.

Desta feita, no entanto, e contrariamente ao que é hábito nos contos dos Irmãos Grimm, a história é vagamente subversiva. O Campónio do título é um camponês pobre, o único da sua aldeia, cheia de camponeses ricos. Por ser o único pobre era desprezado por todos os demais, mas no decorrer da história vamo-nos apercebendo de que, não sendo ele propriamente uma inteligência, ainda que seja dotado de alguma astúcia e manha, os camponeses ricos da aldeia é que eram um verdadeiro bando de cretinos que se deixavam enganar com qualquer manigância, por mais básica que fosse.

Digo ali em cima que o conto é vagamente subversivo, mas é muito claramente um conto cruel, pois a moral da história parece ser que a estupidez é fatal. Não é moral com que eu antipatize, confesso, porque muitas vezes é mesmo. Mas, bolas, escusava de morrer a aldeia inteira, não? É que é assim que este conto popular acaba, um conto que não tem magia desde que não achemos que uma aldeia inteira de gente rica mas muito, muito burra só pode existir por artes mágicas: toda a aldeia morre afogada e o campónio, único herdeiro de todos os outros (porquê? O conto não diz), e que os engana fatalmente sem o menor peso na consciência, fica rico.

E sim, não se enganam, também é um conto que oculta atrás do humor uma quantidade nada irrelevante de cinismo. Não é propriamente uma história educativa, esta, ainda que talvez tenha sido essa a ideia original.

Contos anteriores deste livro:

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