A ideia de Lawrence Watt-Evans (autor que leio pela primeira vez) talvez fosse deixar o leitor na dúvida sobre a real natureza do protagonista e narrador em primeira pessoa que arranjou para este seu conto. Este está convicto de que viajou no tempo, para o passado, para os nossos tempos (ou por outra, para os anos 80, contemporâneos desta história), e de que a sua função é assegurar-se de que ninguém mexe com a linha temporal porque se o fizesse as consequências poderiam ser terríveis. E por isso, sempre que sente que alguém está a fazer mudanças no fluxo do tempo (através de umas dores de cabeça aparentemente direcionais), põe-se à caça do atrevido. E se o encontra, o desgraçado está arrumado. Pois nada pode intrometer-se no Tempo Real (bibliografia).
Talvez fosse essa a ideia. É o que se depreende da forma como a história está construída e é narrada segundo o ponto de vista do homem. Este deteta um alarme, o que equivale a dizer que tem uma dor de cabeça, e põe-se à caça, aproveito os tempos mortos da caçada para transmitir ao leitor a informação necessária para compreender a história. E aquela tentativa final de transformar o narrador num daqueles narradores indignos de confiança, que tanto podem estar a falar verdade como não, ou cuja verdade pessoal não é exatamente a verdade verdadeira, só reforça que a ideia era essa.
Mas se eu falo de tentativa é por uma razão. É que se a ideia era mesmo essa, falhou por completo. Porque há uma e só uma solução para o enigma da natureza do protagonista que não gera inconsistências lógicas. A outra gera, logo é falsa. E é por isso que este conto me parece bastante fraco.
Ah, sim, já agora: a solução falsa faria com que a história fosse FC; a verdadeira faz com que não seja.
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