Mais um conto reconstruído pelos Irmãos Grimm, este Mil-e-Uma-Peles mostra um parentesco claro com a história da Cinderela, ou Gata Borralheira, embora o seu ponto de partida seja bastante mais sombrio: uma tentativa de incesto. Mesmo que justificada por amor.
A princesa que protagoniza a história foge ao pai e, depois de umas peripécias, acaba na cozinha de outro castelo real, como ajudante. Mas às tantas, tal como acontece na história da Gata Borralheira, há um baile e a princesa tem uma oportunidade de ir ao baile, onde deslumbra toda a gente, rei incluído. E, claro, há outra festa e outra ainda, porque estes contos não passam sem o número três, sendo ela descoberta ao fim da terceira e acabando casada com o rei, como teria de ser.
Fala-se muitas vezes, e muitas vezes com razão, do caráter formulaico da literatura comercial, a que muita gente chama popular (incluindo aquela que gostaria de ser comercial mas é sobretudo marginal). Mas em quase nenhuma dessa literatura a fórmula é tão dominadora como nestas histórias tradicionais, estes sim, parte da literatura popular. Chega a tal ponto que encontrar neles os vários elementos da fórmula acaba por se tornar numa espécie de jogo. Senti isso ao ler este conto, por exemplo. Já não é a primeira vez, mas foi a primeira vez que tomei consciência do facto de uma forma tão estruturada. Suspeito que isso explica parcialmente o apelo que eles têm pelo menos junto de parte dos seus leitores.
Conto anterior deste livro:
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