Mais uma história muito política, este Sangue da Avó, Manchando a Alcatifa, contada por Mia Couto em jeito de realismo mágico, com aquele seu jeito de contar uma história à superfície para contar outra nas catacumbas do texto.
Aqui, a história que surge à superfície é uma visita de uma avó orgulhosa, camponesa, aos familiares que tem na cidade grande. E o choque cultural sofrido pela velhota, a desilusão com os modos de vida citadinos, que acaba com a destruição de uma televisão à bengalada e com uma nódoa de sangue espalhada pela alcatifa.
Por baixo está o contraponto e o conflito entre a pureza e honestidade do Moçambique tradicional e a corrupção do Moçambique urbano, muito mais próximo dos centros de poder. Na verdade, é aqui que Mia Couto quer chegar: aos centros de poder. E o que nos diz é que o país sangra porque o poder não o compreende, não o aceita e, no fundo, não quer saber dele. Há que lembrar que em finais dos anos 80, quando estas histórias foram escritas, ainda se combatia na longa guerra civil moçambicana.
Quando somamos ao que ficou dito acima a sempre interessantíssima prosa de Mia Couto, não é difícil concluir-se que este conto é francamente bom.
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