O Goodreads tem uma espécie de jogo que consiste em estabelecer um número de livros para ler durante o ano e depois, quando o ano chega o fim, "ganha" quem conseguir ler mesmo esse número de livros ou o ultrapassar. Há quem o jogue a sério, mas desconfio que a maioria das pessoas é mais como eu: usa-o como uma espécie de guia de progresso, uma forma de aferir se as leituras vão ou não progredindo à velocidade que se estabelece como desejável no início do ano. É que o "desafio" vai dizendo quantos livros se leva de avanço ou de atraso em relação à promessa. Eu costumo estabelecer como meta um livro por semana, 52 ao todo, e desde que comecei a participar naquilo nunca cheguei sequer perto.
Bem... este ano "ganhei".
A lista do Goodreads é um pouco diferente da minha, que eu conto coisas que eles não contam (alguns periódicos e um livro ainda não publicado) e vice-versa (livros em vários volumes, que aqui normalmente contam só como um e lá não, ainda que este ano não haja nenhum caso), mas seja lá qual for a lista, "ganhei". Por lá, contam-se 55 títulos, por aqui 58.
Claro que um motivo importante para isso foi ter lido este ano muitos contos em ebook, especialmente (mas não só) os da coleção de ebooks publicada pelo DN há alguns anos, o que também contribui para o predomínio da ficção lusófona, e muito especialmente portuguesa, sobre a não lusófona. Sem contar com os periódicos, foram 34 títulos lusófonos, dos quais apenas 2 são brasileiros e nenhum de outras nacionalidades, e 17 títulos não lusófonos, três dos quais li por trabalho. Os periódicos foram 7, dois deles compõem-se exclusivamente de material não lusófono, outros dois são de material brasileiro e os restantes são mistos.
A lista completa é a seguinte:
1. Contos Populares Portugueses, de Adolfo Coelho (contos populares, maioritariamente de fantasia);
2. A Idade da Ignorância, de Braulio Tavares (crónicas);
3. A Mina do Deus Morto, de João Barreiros (conto de ficção científica);
4. A Moeda, de Gonçalo M. Tavares (conto mainstream com uma certa pegada insólita);
5. A Musa Irrequieta, de Pedro Paixão (conto mainstream);
6. A Porrada, de Mário de Carvalho (conto mainstream);
7. A Princesa do Gelo, de Manuel João Vieira (conto de fantasia surrealista);
8. A Queda de um Anjo, de Afonso Cruz (conto fantástico);
9. A Terrível Criatura Sanguinária, de Nuno Markl (conto fantástico);
10. Memórias de uma Vida Inesperada, de Noor Al Hussein (memórias);
11. A.K.A., de Rob Swigart (romance satírico com elementos de ficção científica);
12. As Saudades que Tenho de Inácia, de Manuel Jorge Marmelo (conto mainstream);
13. Contos da Infância e do Lar, Volume I, dos Irmãos Grimm (contos populares ou baseados em contos populares, na sua grande maioria de fantasia);
14. Contos, de Eça de Queirós (contos mainstream e de fantasia);
15. Blindsight, de Peter Watts (romance de ficção científica);
16. Cães, de Ricardo Loureiro (conto mainstream);
17. Cidade Líquida, de João Tordo (conto de realismo mágico);
18. Aventuras do Vampiro de Palmares, de Gerson Lodi-Ribeiro (romance-colagem de ficção científica e história alternativa);
19. Defensor do Vínculo, de Pedro Mexia (conto mainstream);
20. O Livro de Areia, de Jorge Luis Borges (contos fantásticos e mainstream);
21. E Tais Pancadas Tem a Costa da China, de Fernão Mendes Pinto (excerto de um livro de viagens);
22. Fábulas de Esopo Ilustradas, de Esopo (fábulas em prosa; minicontos e vinhetas, quase sempre fantásticos);
23. O Génio e a Deusa, de Aldous Huxley (romance mainstream);
24. Jean-Charles, Amor de Calções, de Onésimo Teotónio Pereira (conto mainstream);
25. Buick 8, um Carro Perverso, de Stephen King (romance de horror com elementos de ficção científica... ou vice-versa);
26. Fábulas do Tempo Presente... e do Tempo Futuro, de Carlos Couceiro (fábulas em verso);
27. Mania, de Luísa Costa Gomes (conto de mistério);
28. Missão Stardust, de K. H. Scheer (novela de ficção científica);
29. Monólogo do Oriente, de Patrícia Portela (conto mainstream);
30. Ninfas e Adamastores, de Raquel Ochoa (conto mainstream);
31. No Muro, de David Soares (conto de ficção científica);
32. Notas Soltas da Corda e do Carrasco, de Sérgio Godinho (conto mainstream);
33. O Filho do Pai Manel, de Pedro Santo (conto mainstream);
34. O Fim da Dívida, de Nuno Costa Santos (conto de humor mainstream);
35. O Castelo dos Destinos Cruzados, de Italo Calvino (coleção de contos interligados fantásticos, com elementos de horror e ficção científica);
36. O Galeão Enxobregas, de Francisco Maria Bordalo (noveleta de aventuras);
37. O Homem que Existia Demais, de Possidónio Cachapa (conto mainstream);
38. O Lado Oculto de Rose, de Ademir Pascale (contos de horror);
39. O Universo Extravagante, de Robert P. Kirshner (livro de divulgação científica);
40. Mensageiros das Estrelas, org. Adelaide Maria Serras, Duarte Patarra e Octávio dos Santos (contos de ficção científica e fantástico);
41. John Carter, de Edgar Rice Burroughs (romance de ficção científica);
42. Histórias de Fantasmas, de vários (contos de horror, fantásticos e de humor);
43. Meg, de Steve Alten (romance de ficção científica);
44. 7 Contos Ilustr.s, org. Fernando Esteves Pinto (contos fantásticos, de ficção científica e mainstream);
45. Vou-me Embora, de José Conrado Dias (novela mainstream);
46. Avenidas sem Sentido, org. Pedro Sena-Lino (contos mainstream e alguns fantásticos);
47. O Progresso da Humanidade, de Rui Cardoso Martins (conto mainstream);
48. O Teclado Paranóico, de João Ventura (conto fantástico e de humor)
Como sempre, também marcharam uns quantos periódicos:
49. Fantasy & Science Fiction, nº 645, ed. Gordon van Gelder (contos de ficção científica e fantasia);
50. Bang!, nº 3, ed. Luís Corte Real e Rogério Ribeiro (contos de ficção científica e fantástico);
51. Dagon, nº 3, ed. Roberto Mendes (contos de fantasia e um bocadinho de ficção científica);
52. Isaac Asimov Magazine, nº 3, ed. Ronaldo Sergio de Biasi (contos de ficção científica);
53. Macondo, nº 6, ed. Francisco Mariani Casadore e Marcos Mariani Casadore (poesia e contos fundamentalmente mainstream);
54. Megalon, nº 1, ed. Marcello Simão Branco e Renato Rosatti (contos e artigos sobre ficção científica e fantástico);
55. Ficções, nº 10, ed. Luísa Costa Gomes (contos principalmente mainstream, mas também com fantástico e ficção científica)
E também li por dever laboral:
56. The Warehouse, de Rob Hart (romance de ficção científica);
57. (ainda não anunciado)
58. (ainda não anunciado)
Este ano, ao contrário do que costuma acontecer, não foi propriamente a ficção científica a predominar. De facto, de todos estes títulos só 19 incluem alguns elementos de FC, e são muito poucos os que são declaradamente FC. A variedade imperou nas minhas leituras de 2019, ainda que os contos do DN as tenham empurrado bastante para o lado do mainstream: são 25 as publicações que ou são inteiramente mainstream, ou incluem ficções mainstream. Mas mesmo este número é menos de metade de todos os títulos que constam destas listas. Lá está: variedade.
Mais uma vez, também em 2019 não houve nenhum livro que me tivesse realmente enchido as medidas, apesar de ter havido uma lista de dezena e meia de que gostei bastante, o que dificulta muito a escolha do meu top-3 do costume. Mas depois de muito matutar, acho que vou mais uma vez fazer um top-3 integralmente de ficção científica: o Blindsight do Peter Watts em primeiro, A Mina do Deus Morto do João Barreiros em segundo e o Isaac Asimov Magazine, nº 3 em terceiro. Mas a distância entre estas três publicações e um pelotão inteiro de outras é bastante curta.
Por serem menos, é mais fácil decidir o trio de melhores leituras lusófonas. A Mina do Deus Morto, claro, foi a minha melhor leitura lusófona do ano. O segundo lugar vai para outro conto da coleção do DN, A Queda de um Anjo, do Afonso Cruz, e o terceiro vai para um clássico, os Contos do Eça de Queirós. Tudo português, sim, que este ano li pouco material brasileiro.
Com tanta coisa lida e com um top 3 dominado por FC, se calhar não é má ideia dar também um lamiré sobre as 3 melhores leituras sem ficção científica, ainda que seja uma lista cheia de títulos já vistos em outras. Aqui é A Queda de um Anjo a liderar, seguida pel'O Castelo dos Destinos Cruzados, do Italo Calvino, que é o único título novo porque em terceiro aparecem outra vez os Contos do Eça de Queirós.
E os piores do ano? Bem, aí a escolha é mais fácil porque a lista de candidatos é bastante mais curta. E de novo inclui contos do DN, tanto na lista de candidatos como nos três escolhidos. Estes são todos lusófonos, mas não todos portugueses. Decidi-me por O Filho do Pai Manel do Pedro Santo como o pior livro do ano. Outro Pedro, o Paixão, escreveu o segundo pior livro do ano: A Musa Irrequieta. E o Megalon nº 1 foi o terceiro pior, ainda que o único conto que contém leve provavelmente a taça de pior conto lido em 2019 (não, não vou passar a fazer essa lista; daria demasiado trabalho); o que salva esse número do fanzine é a entrevista.
Para o ano haverá mais, claro. Ainda tenho um punhado de ebooks do DN por ler, e mais uma porção de contos em ebook, alguns já bastante velhos, armazenados no disco rígido à espera de vez, pelo que as listas de 2020 também deverão ser extensas. Portanto se quiserem saber como foi o ano, voltem em 2021, mais ou menos por esta altura. Até lá.
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