quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Ray Bradbury: Havia uma Velha Senhora

Velhas que não admitem um «não» como resposta são daquelas personagens clássicas da literatura (e não só), que tendem a reaparecer com alguma regularidade um pouco por todo o lado. Mas neste conto, Ray Bradbury consegue refrescar a personagem, por assim dizer. É que a velha senhora deste Havia uma Velha Senhora (bibliografia) bate o pé até à própria morte. E com sucesso.

Este é um conto algo incaracterístico de Bradbury. É um conto de horror diluído, por assim dizer, o que nada tem de incaracterístico, bem pelo contrário, mas o que dilui aqui o horror não é a ternura e suavidade com que Bradbury costuma temperar as suas histórias macabras, ainda que estas coisas também estejam presentes aqui, mas algo que não é muito habitual encontrar nele: o humor. Esta é uma história francamente divertida, a começar pela ideia base da velha que morre mas não admite de forma alguma que possa estar morta e por isso vai fazer tudo para "pôr juízo" na cabeça das pessoas que têm o desplante de pegar no seu corpo e o levar para o enterrar, perante o choque, o protesto e por fim a resignação dos demais, até à concretização literária da ideia.

Não é um dos grandes contos de Bradbury, reconheça-se. Mas é um bom conto, criativo na forma como se serve da velha ideia fantasmagórica e interessante no contexto da obra do autor precisamente por se desviar um pouco do que é mais habitual encontrar nele.

Contos anteriores deste livro:

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