sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

M. Mendelsohn: Pequeno Goethe

E à página 72 aparece finalmente nesta revista, que faz gala de acolher todos os géneros fantásticos, uma história que não é de ficção científica. Houve tempo em que era assim; agora é basicamente ao contrário. Saudades...

Mas mal começo e já divago.

M. Mendelsohn é daqueles autores misteriosos sobre os quais nada se sabe (e tornam frustrante o trabalho de quem faz coisas como o Bibliowiki ou, imagino, o ISFDB) e este seu Pequeno Goethe (bibliografia), uma noveleta sobre um menino prodígio muitíssimo especial, é a sua única publicação conhecida, pelo menos nas literaturas do imaginário.

O "pequeno Goethe" é uma aparente criança, potencialmente eterna, cujo ciclo de vida parece resumir-se a duas fases: bebé e criança pequena. Assim, aquele que é na prática um homem feito encurralado em corpo infantil vê-se forçado a uma busca contínua por novos pais adotivos, e são basicamente os desafios que ele encontra nessa busca, e depois na simulação de um desenvolvimento infantil relativamente normal até se revelarem os conhecimentos e capacidades mentais aparentemente precoces, que constituem o núcleo desta história. Por trás da tradução, que nestas revistas sempre foi muito má (e sim, normalmente muito pior que as contemporâneas da Argonauta), parece estar uma noveleta literariamente interessante, mas a verdade é que senti falta de qualquer coisa. A história não vai a lado nenhum, e nem pode ir porque a própria vida do protagonista não vai a lado nenhum, portanto se calhar não é bem isso que falta. Ou então é, no que seria de certa forma um contrassenso. Mas há também um excesso de esforço para manter a suspensão de descrença, mesmo aceitando a premissa fantástica básica de que o protagonista não se desenvolve fisicamente: a diferença entre um bebé e um pré-adolescente é tão grande que para mim aceitar a lógica interna desta história conseguiu ser mais difícil do que aceitar que ninguém reconhece o Super-Homem quando ele empoleira um par de óculos no nariz.

Em suma: esta é daquelas histórias que agradará certamente muito mais a outros leitores do que me agradou a mim.

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