Mais um conto kafkianamente bizarro, este. Na verdade, O Animal na Sinagoga dá uns certos ares de história ou ideia inacabada, até pela forma abrupta como Franz Kafka a termina, praticamente a meio de uma explicação. Mas sendo o autor quem foi, partir desse princípio é no mínimo arriscado.
O título é bastante explicativo do que o conto narra. Numa determinada sinagoga existe um animal, descrito com uma espécie de marta, mas com algumas características que a separam de uma marta normal: não só o pelo é de uma cor estranha como a marta é aparentemente imortal, permanecendo na mesma sinagoga enquanto gerações de fiéis se vão sucedendo. Estes vão oscilando entre o medo causado pelo insólito da situação, algumas tentativas vãs de expulsar o animal da sinagoga e a aceitação. E, pelo menos à superfície, é apenas isso.
Não sei o suficiente sobre judaísmo para saber se este animal na sinagoga poderá ter algum significado inerente à religião, mas parece-me não só possível como provável. Mas também pode ter um simbolismo mais genérico, sendo o mais óbvio o do pecado. De uma forma ou de outra, o conto parece ser uma denúncia contra a conspurcação dos locais de culto e por extensão de toda a religião, ainda que seja a denúncia resignada de quem no fundo sabe que não há nada a fazer, que as coisas são como são. Mas é sobretudo isto que torna o conto interessante; a história em si não o é muito.
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