sábado, 18 de janeiro de 2020

Ray Bradbury: Festa de Família

Não consigo ler um conto da Família Elliott sem me lembrar da Família Addams, e esta Festa de Família (bibliografia) não foi exceção. É provável, de resto, que Ray Bradbury se tenha inspirado na família de simpáticos monstros e vampiros para criar as suas histórias sobre uma família de simpáticos monstros e vampiros, pois os Addams surgiram em cartoons ainda nos anos 30 do século XX, tendo as primeiras histórias dos Elliott aparecido na década seguinte.

Há diferenças entre as duas, claro. Não me lembro de ver na Addams um membro que fosse um ser humano normalíssimo, sem nenhuma peculiaridade especial... o que é o mesmo que dizer um Addams defeituoso, deficiente e por isso mesmo alvo de escárnio dos demais. Posso enganar-me, mas não me lembro. O certo é que existe um Elliott assim, e é ele o protagonista deste conto.

Festa de Família é sobre essa inadaptação e sobre o sofrimento que ela causa ao pequeno, cuja única ambição é ser como os restantes membros da família, que se reúne para uma festa. Mas é como é: uma pessoa nada monstruosa. Isso leva-o a ser alvo de algumas crueldades por parte de alguns dos parentes, mas outros membros da família também o levam ao entendimento de que o facto de ele ser como é nada tem que o menorize, que cada pessoa tem o seu valor próprio, independentemente da sua natureza.

Desconfio que quando Bradbury escreveu isto estava a pensar em si próprio, ou nos nerds, em geral, jovens que são mais movidos pela curiosidade intelectual do que pelas proezas físicas ou sociais que tanto apelam ao comum dos adolescentes, mas a verdade é que o seu protagonista pode ser qualquer pessoa cujo comportamento ou inclinações se desvie dos mais comuns e sofra por isso com discriminação ou troça. Talvez tenha sido por acaso que isso aconteceu, mas este conto de Bradbury é um libelo pela aceitação do outro, de qualquer outro, que ressoa fortemente até aos dias de hoje.

Contos anteriores deste livro:

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