É curioso ver como a morte parece um fantasma quase permanentemente a pairar sobre contos cujo tema proposto seria simplesmente o objeto a que a secular sucessão de acasos que foi construindo a língua portuguesa acabou por dar o nome, sempre provisório, de cadeira. A Cadeira do Pai tem esse título porque o pai morre e deixa uma cadeira, que um dos filhos vai ser obrigado a ocupar. Literal, sim, mas sobretudo figurativamente.
São dois, os filhos. Um, o mais novo, segundo cujo ponto de vista o brasileiro Vinicius Jatobá conta a história em primeira pessoa, nunca saiu da pequena cidade natal e, em vez de estudar, foi trabalhar no negócio da família. Por isso é competente no que faz. Já o outro, não só partiu para a cidade grande para estudar, como não mostrou nisso grande empenho, preferindo outras atividades. História velha como o tempo.
Mas o pai morre e o mais velho regressa "para ajudar". Claro que não ajuda. Não só porque percebe menos do negócio do que o irmão, mas porque é até mais imaturo. É isso que o conto transmite, e o tema da antologia é praticamente ignorado. A cadeira, aqui, é sobretudo alegórica, um símbolo do lugar do pai morto. Um irmão irá sentar-se nela, figurativamente falando, sobretudo, apesar do objeto existir mesmo, e o conto discute qual deles e porquê.
Não foi conto que me tivesse agradado muito. Estas histórias de irmãos de personalidades mais ou menos opostas já foram contadas inúmeras vezes, e o estilo literário de Jatobá não é dos que mais me agradam. Não é um mau conto, até pode ser que seja bom, mas soube-me a pouco.
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