sexta-feira, 29 de maio de 2020

Charles Nodier: Uma Hora ou A Visão

Às vezes noto em algumas pessoas uma certa perplexidade por eu ler coisas que têm grandes possibilidades de não me agradarem, seja por uma questão de estilo, de tema, de ideário, pelo que seja. Não seria mais simples e proveitoso ler apenas aquilo de que provavelmente irei gostar, coisas próximas de que, à partida, poderei desfrutar mais?

Sim, até seria, mas só há uma coisa pior do que lermos coisas que não nos agradam: lermos tão frequentemente as coisas que nos agradam que elas acabam a aborrecer-nos. E além disso, sofro daquela condição grave chamada "curiosidade literária" que me leva sempre a querer saber o que está por trás daquela capa ou a seguir à próxima folha. E por isso continuo a ler coisas como este Uma Hora ou A Visão (bibliografia), de Charles Nodier, apesar de saber à partida que, sendo Nodier um romântico e não costumando agradar-me o estilo e a abordagem romântica, haveria uma elevada probabilidade de não gostar disto. De resto, às vezes há surpresas e às vezes até são agradáveis.

Não foi o caso, no entanto. Este conto tem todos os defeitos que encontro nas ficções românticas — o sentimentalismo exagerado, a prosa empolada, etc. — e muito poucas das qualidades. Trata-se de uma história de fantasmas com amores à mistura (ou paixões, pelo menos; não é bem a mesma coisa) e é uma daquelas histórias de ouvir contar, muito mais comuns nos tempos de antanho do que agora (e felizmente), através das quais os autores se distanciam das narrativas colocando os seus protagonistas/narradores como meros ouvintes de histórias narradas por outros. Aqui, o outro é um fantasma, o que muda um pouco as coisas. Mas não muito.

Não posso dizer que o conto seja mau. Não creio que seja. Mas digo que não gostei de o ler.

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