É engraçado como isto acontece com uma certa frequência: mal um gajo pensa detetar um padrão, uma fórmula inamovível e por isso mesmo aborrecida, um baralhar para voltar a dar as mesmas cartas, lá vem o autor e mete umas cartas novas no baralho, como quem diz "ah julgas-te espertinho, é? Achas que me topaste? Então toma lá, para ver se aprendes".
Sim, Isaac Asimov trocou-me as voltas. Este O Surdo Ribombar (bibliografia) não segue a fórmula de histórias anteriores, e o facto de o demoniozinho Azazel mal aparecer nem é o principal motivo para tal. Na verdade, e apesar da presença do demónio e dos seus atos não deixar que o seja por completo, esta história aproxima-se bastante de um dos seus contos de ficção científica: numa conversa entre duas pessoas, uma delas revela um fenómeno inusitado, e vamos aos poucos descobrindo o que o causa, sendo essa descoberta o que faz mover a história, não as tentativas mais ou menos bem sucedidas de humor em volta do infernal bicharoco.
O fenómeno é, claro, o surdo ribombar do título, resultado de uma estranha formação numa caverna que o descobridor apelida de saser, ou laser sónico. Certamente já veem de que forma esta história soa a FC, mas soa ainda mais do que isso, pois o que se segue é uma série de investigações sobre o funcionamento da coisa. Que a revelam perigosa, capaz dos mais variados efeitos, inclusivamente a destruição de certas espécies químicas através da frequência (e potência, claro) da vibração. É aqui que entramos firmemente no território do cientista maluco e vilanesco, pois o homem procura descobrir a frequência que destroi o ADN humano porque considera os seus semelhantes uma praga que há que destruir. E só não o faz porque revela as suas intenções ao homem que tem contacto direto com o demónio Azazel, e é a solução que estes dois engendram que afasta o conto da FC propriamente dita.
Não tenho bem a certeza, mas acho que este é o conto do Azazel que mais me agradou até agora.
Contos anteriores deste livro:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.