sábado, 23 de maio de 2020

Richard Calder: Epilepsia Hiper-Orgásmica Feminina

Samba do crioulo doido. É uma expressão que é só brasileira por ter tido origem numa canção satírica que não transpôs as fronteiras do país (até porque se referia à política local), mas apesar disso descreve de forma significativamente mais colorida do que as expressões equivalentes portuguesas algo que é universal: uma daquelas monumentais salganhadas, de tal forma absurdas que chega a ser surpreendente que se consiga fazer com elas um todo com alguma coerência.

Foi do samba do crioulo doido que me lembrei ao ler esta doença inventada por Richard Calder. É que a Epilepsia Hiper-Orgásmica Feminina (bibliografia) não se limita a ser a ficçãozinha marota que o título pode levar a crer. É uma misturada de proporções cósmicas. Sim, cósmicas: há ET à mistura, ou pelo menos pode haver. Ou, mais precisamente, "demónios sexuais de outra galáxia". Com referências a Burroughs e ao seu John Carter à mistura.

E é grave, a doença. As pobres afetadas (sempre mulheres, sim), nos paroxismos do hiperorgasmo, contorcem-se com tal violência que chegam a partir a coluna vertebral. A ideia de Calder parece ter sido divertir-se empilhando referências e ideias e tentar com a pilha fazer um todo razoavelmente coerente. Imagino que se tenha divertido bastante. Mas esse divertimento só parcialmente se transmite ao leitor (a este leitor, pelo menos). Há um ponto, difícil de definir e algo (ou bastante) subjetivo, onde as coisas começam a ser demasiado exageradas para continuarem a resultar, e Calder ultrapassa-o. Não posso dizer que o conto seja mau, pois não é, mas não gostei lá muito dele.

Textos anteriores deste livro:

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