terça-feira, 12 de maio de 2020

Vítor Claudino (ed.): Magazine do Fantástico e Ficção Científica, nº 3

Uma apreciação geral deste número 3 do Magazine do Fantástico e Ficção Científica tem de começar por um ponto negativo, que de resto não é único deste número. É que, sem um tema genérico que as junte num todo coerente, as histórias valem (ou não) por si mesmas, mas existe uma coisa que é comum a todas: a tradução. A muito má tradução.

Lembram-se da coleção Argonauta? Conhecem a fama que têm as traduções da Argonauta? Pois bem: depois de ter lido já dois números desta tentativa de publicar em Portugal uma versão da revista americana Fantasy and Science Fiction posso dizer-lhes que as traduções que aqui se encontram fazem as da Argonauta parecer obras literárias de primeira água. Isso talvez baste para explicar o motivo por que a iniciativa foi abandonada ao fim de meros quatro números, embora seja provável que outros fatores também tenham influído no falhanço.

Mas se nos abstrairmos das traduções, este número da revista é bom?

E a resposta é... não. Oh, vale plenamente a pena a publicação porque estão aqui incluídos dois contos que realmente dão gosto ler — Em Tempos Havia os Bois... e Debaixo de Cerco —, e eu mantenho a opinião de que se uma publicação inclui nem que seja um conto muito bom ou pelo menos dois ou três bons já valeu a pena, mas a verdade é que os contos são nove ao todo e valer a pena é uma coisa, ser bom é outra. Há aqui demasiados contos que não ultrapassam o razoável, e até há um ou dois que só a custo lá chegam, o que impede o conjunto de ser mais do que isso mesmo: razoável. Lê-se, desfruta-se das histórias que dão para desfrutar, mas o resto da leitura é basicamente indiferente. E desconfio que o seria mesmo se a tradução fosse boa, ainda que aqui tenha de admitir que se trata apenas de especulação e que é inteiramente possível que haja aqui boa literatura de tal forma estragada pela tradução que parece ser bastante pior do que na realidade é.

Não tenho elementos que me permitam saber como foram construídos os números desta versão portuguesa da F&SF, mas sei que não se trata de tradução direta dos números da revista americana, pois os contos que aqui se incluem datam de diversos anos. Ou seja: existe participação do editor português na seleção. Não sei se houve limitações nos contos que podiam ser incluídos, e se houve quais, financeiras ou outras, mas o facto é que este número não me parece particularmente bem conseguido. É demasiado desequilibrado. Mas lá está: inclui contos bons e por isso vale a pena.

Eis o que achei de cada um dos contos:
Esta revista foi comprada.

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