domingo, 17 de maio de 2020

Rhys Hughes: Ebercitas

E cá está mais uma doença a fazer referência direta a Jorge Luis Borges, sublinhando uma vez mais todo o substrato borgesiano deste livro. Mas à sisudez de Borges, Rhys Hughes contrapõe um humor razoavelmente delirante, carregado de trocadilhos que nem sempre é possível verter para português, e um romantismo que pouco ou nada tem a ver com a frieza erudita dos contos mais propriamente borgesianos.

Sim, pois Ebercitas (bibliografia) é uma doença de amor. Ou, mais precisamente, uma loucura sentimental, contagiosa, que leva os infelizes pacientes a fazer aquelas tolices típicas das histórias de amor romântico, na tentativa de impressionar uma argentina chamada Eber. Não sei se esta Eber é real, mas há alguns sinais de que possa ser; Hughes atribui o primeiro caso da maleita a um tal Orejitas Entrerroscas, e quem conheça o autor das suas andanças pela web na primeira década do século XXI reconhece este Orejitas de algum lado. Se assim for, este conto funciona como uma declaração ficcionada de amor (ou uma declaração de amor ficcionado?), e não seria o único — veja-se A Sereia de Curitiba.

É curioso que tantas destas doenças sejam descritas por pessoas por elas afetadas; até parece que os autores se combinaram, embora não creia que tal tenha realmente acontecido. E sim, esta é mais uma. Um texto mais longo que a maioria dos restantes deu a Hughes espaço para várias subtilezas francamente interessantes, desenvolvendo melhor a sua ideia e lançando ironias em várias direções. Consequência: gostei mais desta história, porque de uma verdadeira história se trata, do que tem sido hábito neste livro.

Textos anteriores deste livro:

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