quinta-feira, 14 de maio de 2020

Gaspar Coutinho: Auto de Insolvência

Eu nunca publicaria alguns dos contos que saíram nesta antologia por falta de qualidade mínima no manejo da língua portuguesa, mas o problema deste Auto de Insolvência (bibliografia) não é falta de qualidade no português, que Gaspar Coutinho escreve bastante bem. No entanto, eu também nunca publicaria este conto numa antologia que se propõe publicar literatura fantástica, e por um motivo bastante simples: ele nada tem a ver com literatura fantástica, a menos que se faça uma interpretação altamente criativa da condição do protagonista (e com interpretações altamente criativas tudo é literatura fantástica, o que faz com que nada o seja).

E dito isso, tudo o resto passa a ser secundário e sim, vêm aí spoilers. O conto consiste numa diatribe de um empresário que sente que o mundo (com os mariolas dos sindicalistas à cabeça, que o "senhor doutor" é desses) está contra ele, levando-o a perder tudo. Daí a "insolvência" do título. Mas o "auto" não é propriamente coisa legal e burocrática como se percebe no fim. Sim, que (lembram-se de que avisei sobre spoilers?) acabamos por descobrir que o homem está moribundo, depois de se ter estampado no carrão, acabando por bater a bota quando os socorristas chegam para tentar salvá-lo.

O melhor que este conto tem é mesmo a escrita. Da adequação ao tema da antologia estamos conversados, e quanto à história propriamente dita, enfim... digamos que está muito longe de me entusiasmar. É possível que não haja outra forma de escrever uma história ante mortem como esta (e daí, não subestimemos a criatividade humana), mas o fluxo de consciência não é das minhas técnicas favoritas porque me parece muito difícil mantê-lo interessante. Isto do interesse tem a ver com o tema, claro está, e é inerentemente subjetivo, pelo que o que me desinteressa decerto interessará a outros, mas o facto é que esta história me aborreceu, mesmo sendo tão curta.

Textos anteriores deste livro:

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